quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O comportamento dos tiranos

Dizia um certo professor de filosofia política serem os tiranos elementos típicos e recorrentes na história da vida pública da humanidade, fantasmas que nos fascinam e aterrorizam há vários milênios.

O que esse professor não afirmou e eu ouso afirmar é que os tiranos são a prova inconteste de que a reencarnação existe, uma vez que eles sempre retornam em novos corpos, em novos espaços geográficos e contextos políticos, mantendo em suas novas versões corporais apenas o velho e decrépito fio do mesmo comportamento paradoxal, ao mesmo tempo lógico e insano.

Pensam que sou um chistoso contumaz?

Vejam o que escreve sobre eles um autor da 2ª metade do séc. IV a.C e tirem suas próprias conclusões. Transcreverei apenas um trecho que me parece mais significativo dessa reiterada similitude entre tiranos do passado longínquo, do passado mais próximo, e, acima de tudo, da atualidade.

" - Nos primeiros dias e nos primeiros tempos, acaso não se sorri e cumprimenta toda a gente que encontrar, e não declara que não é um tirano, faz amplas promessas em particular e em público, liberta de dívidas, reparte a terra pelo povo e pelo seu séquito e simula afabilidade e doçura para com todos?

- Forçosamente.

- Mas quando conseguiu, julgo eu, nas suas relações com inimigos de fora, reconciliar-se com uns e destruir outros, e daquele lado há tranquilidade, primeiro que tudo está sempre a suscitar guerras, a fim de o povo ter necessidade de um chefe.

- É natural.

- E também a fim de os cidadãos, empobrecidos pelo pagamento de impostos, serem forçados a tratar de seu dia-a-dia e conspirarem menos contra ele?

- É evidente.

- E, segundo julgo, se ele suspeitar que alguns deles albergam pensamentos de liberdade que os afastem da obediência a ele, provocará essas desavenças, com o pretexto de os deitar a perder, entregando-os aos inimigos. Por todos estes motivos, um tirano tem sempre necessidade de desencadear guerras.

- Forçosamente.

- Mas tal procedimento predispõe os cidadãos a odiá-lo mais.

- Mas não haverá alguns dos que ajudaram a elevá-lo àquela posição e que têm poder para falar livremente, diante dele e uns com os outros, e que critiquem os acontecimentos, pelo menos aqueles que forem mais corajosos?

- É natural.

- Logo, o tirano tem de eliminar todos esses, se quiser governar, até não deixar ninguém dentre amigos e inimigos, que tenha alguma valia.

- É evidente.

- Portanto, tem de discernir com agudeza quem é corajoso, quem tem grandeza de ânimo, quem é prudente, quem é rico; e é tal a sua felicidade que é forçado a ser inimigo de todos esses, quer queira, quer não, e a armar-lhe ciladas, até limpar a cidade.

- Bela limpeza essa!

- Sim - disse eu - é o contrário do que fazem os médicos com os corpos: esses retiram o pior e deixam o melhor; aquele faz o inverso.

(...)

- Não é verdade que quanto mais os concidadãos o odiarem devido ao seu procedimento, tanto mais ele precisará de lanceiros mais numerosos e mais fiéis?

- Pois não!

- Mas que homens fiéis são esses? E de onde é que ele os há-de mandar vir?

- Virão muitos a voar, espontaneamente, se lhes der a recompensa." (pp.405-407, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian)

Creio que esse trecho é suficiente. Assim sendo, como não creio que certos presidentes da américa latina tenho lido A República de Platão, dou por suficientemente comprovada a minha tese: há reencarnação sim, senhores! O que não posso afirmar é que o fenômeno da transmigração das almas para outros corpos se dê com todos os mortais, mas que ele ocorre com espantosa frequência entre tiranos, disso eu tenho certeza.

Luís Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez são a provas vivas dessa minha aparentemente estapafúrdia teoria.




2 comentários:

  1. Muito bem lembrado, Espião.

    O bem é finito; o mal é imortal.

    Paulo

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  2. No caso do Brasil, Paulo, o mal é imortal, barbudo, falta-lhe o dedo mínimo em uma das mãos e tem a voz tratada a tabaco e aguardente.

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