segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Cadê o recibo?

Quando a gente paga condomínio, luz, telefone fixo e celular, financiamento habitacional, boleto bancário, apostas lotéricas, quando a gente paga médico, dentista, advogado, psicólogo, arquiteto, bombeiro, pedreiro, marceneiro, o que é que recebemos em mãos? Exatamente: os recibos referentes ao que pagamos.

Se é assim, por que é que não nos dão recibo dos nossos votos?

Estou misturando alhos com bugalhos? Não estou, senhores e senhoras. Não estou misturando nada.

Citei acima as apostas lotéricas. Os votos que damos aos candidatos são uma modalidade muito especial de aposta, ou, em outras palavras, trata-se da aposta feita por cada cidadão em um país melhor para todos nós. Assim sendo, nada mais justo do que termos em mãos o recibo referente à aposta que cada um de nós fez.

Vamos supor que alguém quisesse cobrar diretamente do candidato eleito (também por ele) alguma promessa de campanha? Não seria muito mais honesto e direto apresentar ao seu representante, o representante que ele instituiu, a confirmação de que ele foi um daqueles cidadãos que o elegeu?

Sei, sei. Posso estar parecendo idílico ao imaginar uma modalidade democrática direta e reta, neste país de analfabetos políticos, como diria o chatíssimo Brecht. Mas, na verdade, a única coisa que desejo é a transparência no sagrado direito e dever de votar.

O TSE exigirá nestas próximas eleições que os cidadãos apresentem o título de eleitor e a carteira de identidade para o exercício máximo da cidadania. Por que, então, os eleitores não têm o direito de exigir do TSE que lhe confiram recibo do voto que cada um deu ao seu candidato, expressão máxima da sua soberana vontade?

Ah, acontece que o voto é secreto! Mas há mais segredos entre o cidadão e seu voto do que possa imaginar nossa vã cidadania!

Fosse eu "rei do mundo", como disse Drummond em um de seus poemas, baixaria o seguinte e parodiado decreto: todo eleitor tem direito ao recibo do voto que conferiu ao seu candidato! E deve guardá-lo com todo o cuidado, pois a transparência das eleições depende fundamentalmente dele.

Guardem, cidadãos brasileiros, guardem os seus recibos de voto! Façam cópias autenticadas desse documento, guardem os originais em cofres! Eles podem vir a ser a prova de que a maioria não está sendo empulhada.

Termino com a minha batida cantilena: este é um folhetim ficcional. Qualquer semelhança com idéias boas ou más para a vida pública será mera coincidência.

Um comentário:

  1. Quero meu recibo também. Do contrário, desconfiarei sempre desses aparelhinhos que o mundo civilizado rejeita.

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