Quem disse isso foi Demócrito de Abdera, contemporâneo de Sócrates. A diferença entre esses dois filósofos é imensa: enquanto a relação entre o pensar e o agir de Sócrates era guiado por princípios éticos que sobrepujavam até o instinto básico de sobrevivência - o que fez Sócrates aceitar a morte pela cicuta sem pestanejar - o projeto de Demócrito era cognitivo, o que equivale a dizer que a realidade objetiva deveria dar as cartas no jogo do agir humano, independentemente dos desejos subjetivos morais ou de qualquer outra natureza metafísica.
Não é muito difícil perceber que para Sócrates a ação é a sombra da palavra, ou do logos que em grego se traduz também por razão e discurso. Assim é para Sócrates, é assim para Marina Silva. A comparação soa descabida? Talvez seja exagero de minha parte, mas a moralidade que paira sobre o discurso político da candidata do PV é socrática. Todos os caminhos políticos defendidos por Marina estão sob o guarda-chuva do discurso ecológico. É como se suas verdes idéias tivessem o condão de recriar um mundo-mônada, alheado da realidade política mundial, e não submetido ao duro confronto e atrito com outros fatores econômicos e sociais do Brasil em suas complexidades internas e nas relações internacionais. A expressão "auto-sustentabilidade" é degustada pela candidata como um bombom com sabor de promessa realizada. Assim como a Natura do seu vice vende beleza, Marina vende felicidade. Mas sonhos não regem a vida prática do cotidiano social.
Serra, por sua vez, está mais para o pensar e o agir de Demócrito. Suas palavras são, de fato, a sombra de ações. A realidade objetiva permeia e direciona seus projetos políticos. Assim foi, por exemplo, com a questão dos medicamentos genéricos. Além disso, é o único candidato que tem dito como pretende resolver problemas práticos do Brasil. Sem maiores ou menores delírios.
E quanto à dona Dilma? A que linha filosófica ela estaria vinculada? Eu diria que dona Dilma está provavelmente vinculada a uma linha filosófico-literária mais arcaica. É a mãe do povo? Sim, é a mãe do povo. Dilmedéia, portanto.